
Com o som da despressurização o corpo gélido da tripulante tombara para frente na sua tentativa de dar um passo. Fazia séculos que ela tinha pisado no solo com firmeza. Caída no chão, sentiu os olhos desembaçando a cada piscada. O ar do lado de fora da cápsula causava muito desconforto, pois era como arranhões sobre a pele.
A tripulante permaneceu debruçada por alguns instantes, esperando o corpo recobrar as forças até que enfim tivesse equilíbrio para pôr-se de pé. Quando enfim conseguira, passou a mão sobre o rosto, levando-a a lateral da cabeça numa tentativa de fazer a mente voltar. Já consciente de si, olhou ao redor.
Uma sala grande e branca, repleta de outras cápsulas de hibernação iguais a dela. Devagar, começou a andar por elas em busca de respostas para as perguntas que aos poucos se formavam em sua mente. Por quê ela era a única acordada?
De repente uma voz eletrônica começara a falar, era o assistente do laboratório que fora ativada com a sua presença. A tripulante aproximou-se da interface de interação e perguntou o motivo do seu despertar. Em respostam, a interface – chamada de Vox – começou a fazer um diagnóstico da nave e uma varredura pela nave, descobrindo aquilo que seria a pior resposta possível: eles estavam sós.
Assustada com o fato de estar sozinha naquela nave, a tripulante perguntara quanto tempo faltava para o destino. A resposta? Animadora, porém trágica. Faltavam apenas dez anos para chegar ao planeta. Aterrada pela notícia, a tripulante começara a chorar, pois não podia pensar em ficar dez anos sozinha naquela nave.
Mas o tempo não vê lágrimas nem sorrisos, ele está sempre apressado em correr. Passou-se quase dois anos desde o fatídico acidente e a tripulante procurava manter a sanidade com conversas constantes com Vox. Falaram sobre tudo que se pode imaginar. Como era a nova colônia, os planos do futuro, as diretrizes para fazer o traslado de planetas, como a tripulante esperava reaver a família.
Aconteceu que, um belo dia, perto do quinto ano de desperta, uma tempestade solar próxima silenciara Vox e, com isso, a tripulante também. Com o tempo sua sanidade foi diminuindo. Ela começara a ouvir as vozes de Vox e até mesmo a vê-lo. O que era impossível, pois ele era uma inteligência artificial. Foi quando em um ato desesperado de medo da própria loucura, a tripulante liberou todos os outros do seu sono, mas sentindo profundo remorso, enclausurou-se em uma das cápsulas, dando a si própria dez anos de hibernação como punição.
Quando enfim acordara, todos já tinham saído das naves e os médicos que lá estavam tentavam reanimá-la. Percebendo que acordara junto aos outros passageiros, perguntou ao médico em que ano estavam e a resposta a surpreendeu, era a exata data do pouso programado ao sair da Terra. Então por quê ela estava acordada?
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-Consertem o Vox. – falou ela aos médicos que a atendiam, lembrando do seu amigo que fizera depois do sono. – Depois de uma tempestade solar ele parara de funcionar.
-Senhorita Nemo – respondeu a médica com a voz suave, porém séria. – Não existe nenhum Vox.
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